A Técnica Psicológica das Palestras Radiofônicas de Martin Luther, p.8

8. "Interesse humano"

Thomas se dirige a uma audiência que tem de ser imaginada como sendo formada, em sua maioria, pelas pessoas da classe média baixa desapontada, em geral as mais velhas e solitárias, as mulheres em particular. É o que permite dar conta de uma de suas atitudes favoritas : o ardil do interesse humano, o fingimento deliberado de proximidade pessoal, calor e intimidade. Essa atitude já mostrou seu valor, por exemplo, através do tremendo apelo que revelam as personagens centrais dos seriados femininos. Thomas se apresenta como uma espécie de filósofo de cozinha, o sujeito humilde, simpático e bom, com coração de ouro, que, embora de modo algum viva confortavelmente, antes pensa em sua vizinha, trazendo-lhe conforto e dando-lhe algum tipo de ajuda. Apesar de o expediente do interesse humano empregado por Thomas se relacionar com sua audiência específica, deverá ser notado que ele também pode ser encontrado entre a grande maioria dos agitadores fascistas norte-americanos, como Phelps, embora quase não se faça presente na propaganda nazista. Aparentemente, a pressão da tecnologia e a cultura de negócio altamente centralizada deste país são tamanhas que os que vivem sob essa pressão pedem um "narcótico forte". Devido a sua falsa imediaticidade, que leva a voz distante para dentro da casa do pequeno grande homem, o rádio é um meio particularmente adequado para se lançar mão desse expediente.

Thomas parece ser capaz de falar com total facilidade sobre os assuntos mais íntimos de sua vida às pessoas mais estranhas, mesmo em se tratando de experiências em relação às quais, qualquer um que as tenha tido, seria totalmente reservado.

"Deus chamou-me; e não me chamou senão quando minha mãe estava em seu leito de morte; quando ela me pediu para ficar a seu lado e disse: "antes de você nascer eu o ofereci a Deus, o ofereci para ser ministro do Filho de Deus." (7/6/35)

Thomas sugere que essa experiência provocou uma completa mudança em sua vida, uma espécie de conversão augustiana. "Minha vida mudou imediatamente. Passei a odiar as coisas carnais que eu amava" (7/6/35). Embora seja fato que sua verdadeira família não seja de nenhum modo feliz, toda ela é chamada a servir às finalidades propagandísticas. Exemplo disso é quando ele menciona a doença de sua esposa e pede à comunidade para orar por ela, apesar de, um pouco mais tarde, esclarecer que, no final das contas, ele não está assim tão doente. Quando tem um acesso de tosse, Thomas a usa para dar um toque pessoal e aparecer como "[ser] humano", sem esquecer de sublinhar seu ilimitado espírito de sacrifício. "Se eu tossir hoje, sei que vocês me perdoarão e irão perceber que eu tenho trabalhado com grande dificuldade" (6/6/35). Do mesmo modo, finge possuir um interesse íntimo nos assuntos familiares do ouvinte. Sempre há pessoas doentes, descendo a ladeira, que sofrem sob condições humilhantes: a todos ele manifesta sua simpatia. "Eu espero que cada um de vocês tenha uma boa noite de descanso, que você recupere suas forças e esteja pronto para o grande dia de amanhã, tanto quanto foi grande o de hoje" (25/5/35). Thomas divide suas alegrias não menos do que suas dores, e sabe usar o orgulho que eles tem em seu filho mais novo. "[Gente !] Vamos deixar os homens e mulheres que não se deixam governar por sua emoções e que me escutam a essa hora da manhã olhar nos olhos azuis de seu bebê" (28/5/35)

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