A Técnica Psicológica das Palestras Radiofônicas de Martin Luther Thomas, p. 5

5. O expediente da "infatigabilidade"

Embora se refira à sua honestidade perseguida, à sua falta de egoísmo e a sua devoção às grandes causas, Thomas raras vezes esquece de sugerir sua infatigabilidade. Ele lê centenas de cartas por dia; gasta toda a sua energia. Seu cabelo clareou muito cedo devido a seus incansáveis esforços. Ele se sacrifica e trabalha de um modo incomparavelmente maior do que seus seguidores: "Deixem-me repetir que meu trabalho é uma obra de amor. Eu apenas peço que você se sacrifique comigo. Eu não peço que você trabalhe tão duro como eu" (22/5/35). A infatigabilidade, estranhamente porém, também é uma das principais características que ele atribui a seus inimigos. Os bolcheviques nunca estão cansados; trabalham na subversão dia e noite, minando a estrutura da sociedade americana enquanto a gente boa está dormindo. "Relembrem, os comunistas nunca saem de férias. O demônio reaparece a todo momento. Você e eu, porém, precisamos trabalhar noite e dia porque temos menos pão." (31/5/35). É clara a afinidade desse expediente com o bordão "Acorda Alemanha".

As implicações psicológicas são muitas e não totalmente consistentes. Acima de tudo, existe o desejo de "provocar", que pode ser visto como o arquétipo de toda a agressividade e é um dos impulsos centrais de que se vale o fascismo para real e ideologicamente perpetuar a necessidade de trabalhar duro e, assim, obter justificativa para a disciplina e opressão. A referida atitude, fundada em tendência socioeconômicas, permeia as últimas ramificações psicológicas do fascismo inteiro. Psicologicamente, não se permite que ninguém durma nesse regime: uma das torturas favoritas aplicadas pelos governos autoritários é interromper o sono de hora em hora, até que nervos arrebentem. A fúria fascista para com quem dorme – no sentido de que deixa as coisas em paz – reflete-se na ênfase dada pelo líder fascista a seu modo incansável de ser; ela ajuda a torná-lo exemplo para seus seguidores. A infatigabilidade é uma expressão psicológica do totalitarismo. Nenhum descanso deve ser dado até que tudo esteja medido, entendido e organizado; e como este objetivo jamais vai ser alcançado, é necessário o esforço incansável de cada militante [2].

Embora a infatigabilidade seja destacada, o agitador todavia não deseja provocar um verdadeiro despertar, uma atitude lúcida e consciente entre seus seguidores. Para ser exato, deseja-os ativos e prontos para fazer coisas, mas desde que sob um tipo de feitiço. Existe um elemento de verdade no comentado "hipnotismo de massa" promovido pelo fascismo. Apesar dessa referência muitas vezes subestimar o elemento altamente racional dos movimentos de massa fascistas, isto é, a esperança de ganhos materiais e de melhoramento no status social, pode-se endossá-la em grande parte: a atividade esperada pela propaganda fascista é a de um hipnotizado, antes que a de indivíduos conscientes e responsáveis. No caso, por exemplo, a insistência na infatigabilidade funciona com uma espécie de narcótico. Exatamente porque se espera que o seguidor adormeça e aja enquanto estiver adormecido, conta-se a ele, um sem número de vezes, que ele deve estar acordado e que ele não deve dormir. A relação entre cair no sono e ser incansável é pois altamente ambivalente, e os agitadores dela se alimentam. Aquele que está prestes a cair no sono e ouve que tem de ser incansável e que é incansável, pode oferecer muito menos resistência à vontade de seu líder do que o faria de outra maneira. Assim, ele pode ser levado a crer que está vacinado contra o próprio contágio que o ameaça.

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