Algumas questões sobre o spray de pimenta
(Texto baseado em materiais disponíveis on-line e em testes do Grupo de Trabalho de avaliação de armas não-letais)
O spray de pimenta utiliza componentes que produzem um efeito inflamatório e não apenas iritante conforme se imagina. O princípio ativo elemento atribuído é o óleo de pimenta, em geral da família Capsicum (pimenta vermelha, pimentão, dedo de moça), que contém a capsicina (8-metil-N-vanilil-6-nonenamida) um alcalóide lipófilo (solúvel em gordura).
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d8/Capsaicin_chemical_structure.png.
O óleo de pimenta natural atua com maior força sobre áreas sensíveis da pele sendo particularmente doloroso em contato com as mucosas e os olhos. O efeito depende em grande parte da quantidade de gás pimenta que entre em contato com a vítima, podendo demorar, em seu efeito mais forte, em torno de trinta a quarenta e cinco minutos com efeitos secundários ao longo de algumas horas que gradualmente se reduzem, como irritação contínua dos olhos e outros.
Há também outras duas variantes para o spray de pimenta: o gás de tripla-ação que pode conter conjuntamente gás-lacrimogêneo (C.S – gás ortocloro benzil malonitrila) ou ainda silicone, o que permite prolongar seu efeito por mais tempo preservando-o da desnaturação imediata (uso em nuvem ou granada para saturação de ambiente). O período estendido de exposição pode potencializar lesões advindas de seus efeitos, como irritação persistente da pele e efeitos alérgicos, ainda pouco estudados em relação ao nível de toxicidade, como, por exemplo, análise de risco ambiental e para a saúde humana.
Outro componente estranho utilizado conjuntamente, ou substituto, pode ser o ácido pelagórgico morfólido, variante sintética do óleo de pimenta desenvolvido na Rússia, de que se tem poucas notícias, sofrendo acusação de possuir efeitos mais tóxicos que os do óleo natural.
Em grandes quantidades, o óleo de pimenta pode ser letal e seu consumo excessivo acidental tem sido atribuído como causa de alguns casos de morte de crianças na Índia. Seu efeito, curiosamente só atinge os mamíferos, os demais animais como aves e répteis não sofrem seus efeitos.
No Brasil o principal, aliás, único fabricante deste produto é a “Condor tecnologias não-letais”, possuindo diversos formatos e “espargidores”, recebendo o nome de “agente incapacitante” e podendo se associar em alguns equipamentos com gás C.S., este mais comum de se encontrar em uso pelas forças armadas.
Os principais componentes ativos causdores da ardência nas pimentas do gênero Capsicum.
Capsaicinóide | Abrev. | Ocorrência | Escala Scoville
|
Estrutura Química |
Capsicina | C | 69% | 15,000,000 | |
Dihidrocapsicina | DHC | 22% | 15,000,000 | |
Ortodihidrocapsicina | NDHC | 7% | 9,100,000 | |
Homodihidrocapsicina | HDHC | 1% | 8,600,000 | |
Homocapsicina | HC | 1% | 8,600,000 |
http://www.homesteadcollective.org/mpg/science/minorcap2.shtml
Primeiros Socorros:
Sair da área infectada e do alcance dos espargidores é a primeira grande sugestão, principalmente em operações onde se pretende saturar o ambiente de gás incapacitante.
Dentro do que se conhece, não há neutralização imediata completa para o spray de pimenta, mas seus efeitos podem ser minimizados ou parados.
A água também não neutraliza prontamente o efeito do spray, pois, como já foi dito, a capsicina é liposolúvel (solúvel em óleos e gorduras) e dissolve rapidamente no óleo da pele, mas se separa da água.
Apesar de que, quando não se tem nada melhor, não há opção exceto utilizar uma garrafa de água com espargidor (tipo “Gatorade Sport”) diretamente sobre os olhos com a cabeça inclinada para baixo, de modo que a água só atinja os olhos sem escorrer pelo rosto ou pescoço.
Após isto, passa-se à secagem dos olhos com uma toalha limpa e seca de algodão (algo hidrófilo, isto é, que chupe a água) sem esfregar pelo rosto. O processo constitui em extrair o óleo, passando-se a seguir a tentar aliviar o efeito de ardência na pele e nas mucosas (pode-se forçar cuspe e lacrimejar intensamente, limpando a laringe e os olhos).
Ao fazer isto nos olhos, deve-se evitar o contato diretamente com a substância, utilizando luvas ou qualquer outra coisa que posso aliviar.
Um sabão neutro (que não seja a base de gordura) como o sabão de côco, detergente suave (como o antigo “Opção Verde” ou neutros) junto à um ventilador num local ventilado, surtirão algum efeito.
Outros problemas podem advir do uso de incapacitantes compostos, como quando se soma com gás lacrimogêneo, que possui outros efeitos diferentes, além de outro processo de neutralização, estamos testando a sugestão de neutralização com metabissulfito de sódio dissolvido em leite utilizando a seguir protetor solar, após a limpeza da pele com água e a toalha limpa e seca. Mas nada disso tem surtido um efeito muito radical, além de não dispormos de uma quantidade suficiente para testes mais conclusivos, ou mesmo uma amostra estável para o teste em espectrofotômetro para gases ou absorção atômica em chama de acetileno.
Não podemos, portanto, concluir pela presença de silicone, C.S., ou substituto sintético do óleo de pimenta conjuntamente com os sprays de pimenta em uso pela polícia (fabricante condor), nem por sua implicação na análise de risco para avaliação de toxicidade de químicos no estado de vapor.
Outras sugestões descrições de primeiros socorros vide:http://www.inf.ufsc.br/barata/gaslac25.html
Finalmente alguém mais olhou o texto, então ele não é mais meu.
Esta avaliação é de natureza técnica, e ainda pouco consistente no interim sobre o impacto do óleo de pimenta.
Em segundo lugar, falta uma avaliação jurídica específica para este ítem em especial, mas a crítica que vale para o agente lacrimogêneo C.S., vale para este caso. Pode-se iniciar este problema pela falta de uma avaliação de toxicidade e periculosidade, mesmo que seja composto de elemento de origem natural, ainda que sobre isto eu tenha dúvidas, o que mudaria o seu efeito e avaliação.
Como exemplo, a diferença entre espargir um agrotóxico sobre pessoas e aspergir um agrotóxico com adição de sulfatos (que permite ao composto penetrar na pele), é aquilo que permite classificá-lo já como arma química com um potencial letal muito maior, e não somente um efeito secundário.
Estendendo este raciocínio para o spray de pimenta, pode-se concluir que o spray ganha um efeito potencial muito maior em relação à irritação das vias respiratórias, o que pode levar à produção excessiva de líquido no pulmão, em resposta ao agente, o que poderia levar ao afogamento dada à inundação das vias respiratórias com acúmulo do líquido que reveste o espaço pleural.
A irritação da pleura (membrana que reveste o pulmão) pode causar o derrame pleural ou outro tipo de inflamação (a pleurisia seca), que após o desaparecimento da inflamação podem-se formar aderências fazendo as camadas pleurais se unirem, podendo ter então efeito letal em decorrência de falência pulmonar.
Atenciosamente
D
Técnico em Saneamento Ambiental e estudante de Filosofia