Jefferson Rodrigues Barbosa
No presente contexto de denúncia e de atuação de grupos portadores de valores intolerantes, marcados pelo chauvinismo, racismo e pelo discurso contra os imigrantes, o retorno à insanidade configurada no neofascismo e neonazismo possibilita o debate crítico em oposição às concepções que advogam o “fim da história” e o “fim das ideologias”.
As organizações de extrema direita, nesse sentido, firmam presença como parte da cultura política do século XXI, exercendo também atuação nos países latino-americanos como o Brasil. A militância no Brasil de muitas organizações nacionalistas que se autodenominam herdeiras do integralismo é uma realidade que está articulada às manifestações internacionais que compõem o fenômeno internacional dos movimentos e partidos chauvinistas.
Os integralistas, em sua primeira fase, estavam organizados enquanto partido sob a denominação de Ação Integralista Brasileira (AIB), entre 1932 e 1938. Porém, é necessário distinguir o integralismo brasileiro contemporâneo, pois ele não está mais organizado em um único partido político como a antiga AIB.
Hoje existem vários núcleos referenciados na internet e espalhados em vários estados brasileiros, principalmente no sudeste e no sul do país. E as diferentes organizações aglutinam núcleos que tem interpretações particulares sobre a herança ideológica de Plínio Salgado, Miguel Reale e Gustavo Barroso, os principais formuladores da ideologia integralista.
No sentido de reorganização, os herdeiros do Eixo, através de instituições geradoras de cultura como jornais, editoras e livrarias, construíram uma complexa e ainda obscura rede, com o apoio de parlamentares e congressistas conservadores e nacionalistas. Situação exemplificada no aparente proselitismo político caracterizado pela migração de antigos militantes (nazistas, fascistas e, no caso brasileiro, integralistas) para partidos políticos conservadores e democrata-cristãos depois da Segunda Guerra Mundial. Como é o caso do Partido de Representação Popular (PRP), fundado por Plínio Salgado depois de 1945.
O Partido de Representação Popular (PRP) é relacional ao contexto em que antigos fascistas e integralistas sobreviveram dentro de legendas partidárias conservadoras e representou a segunda fase de continuidade do integralismo no processo político brasileiro.
Os integralistas após 1945 não ficaram fora do espaço de disputa pela hegemonia no âmbito do Estado após a derrota dos Regimes do Eixo, atuando através do PRP e representando um componente da dominação burguesa que defendia posições excludentes sob a lógica do consenso. O PRP foi diluído no contexto do Regime Militar, porém, Plínio Salgado e antigos integralistas continuaram os seus préstimos à nova configuração da ordem nacionalista militarizada através do partido político criado para apoiar a ditadura, a Aliança Renovadora Nacional – ARENA [1] (CALIL, 2005).
No Brasil, a partir do final da década de 1970, novas e antigas gerações de integralistas, mesmo não estando mais articuladas em um único partido político, também objetivaram, e ainda objetivam, a mobilização de simpatizantes e militantes, difundindo sua propaganda política.
Os denominados neo-integralistas estão organizados e estão comprometidos com a difusão de sua ideologia através da propaganda política em meios impressos e eletrônicos.
A partir da década de 1980, com M. Tatcher e R. Reagan, período marcado pelo conservadorismo político e a reconfiguração e fortalecimento de instituições internacionais mantenedoras de novos modelos para a defesa da ordem do capital, configurou-se um novo contexto político propício para a articulação de alianças entre diferentes matizes da direita (VIZENTINI, 2000). A conjuntura internacional daquela década, influenciada pela administração conservadora hegemônica, propiciou espaços na sociedade para grupos com solidariedade ideológica no combate às concepções políticas esquerdistas.
No Brasil, sob a influência do contexto de conservadorismo internacional, em 1981, foi fundada a Casa Plínio Salgado por Pedro Baptista de Carvalho, na cidade de São Paulo, com a proposta de formar grupos de estudo e discussões sobre o movimento e organizar um acervo importante das obras do integralismo. Em 1983, o advogado Anésio Lara Campo registra a Ação Nacionalista Brasileira, tornando-se seu primeiro presidente, com intuito de reestruturar o movimento integralista e penetrar na sociedade política em forma de associação civil com o objetivo de se tornar partido político (CARNEIRO, 2007).
Nesse período, adeptos das idéias de Plínio Salgado tentaram recuperar como parâmetro organizacional os princípios da AIB. Porém, com a ausência do “Chefe”, que morreu em dezembro de 1975, ocorrem divergências que seriam potencializadas sem o papel de um líder. Mas alguns camisas-verdes continuaram a sua militância como intelectuais orgânicos em prol da concepção do Estado Integral. E, a rearticulação de um movimento unificado entre os integralistas recebeu forte contribuição de adeptos de São Paulo e Rio de Janeiro. Os últimos exerceram, nesse sentido, um papel fundamental no restabelecimento de articulações entre novos e velhos militantes.
Segundo Carneiro (2007, p.151-153):
Com a entrada dos anos 80 tentou-se a reorganização em formas de associações que pretendiam reviver a antiga prática integralista de doutrinação por encontros e cursos específicos. Dentre estes, o mais importante na reorganização do integralismo foi o Centro Cultural Plínio Salgado, localizado em São Gonçalo, Rio de Janeiro. Seu fundador e mantenedor era o advogado Arcy Lopes Estella […] na juventude um membro da militância integralista na década de 1930. Durante a segunda metade da década de 1990, Arcy manteve viva a idéia de união do movimento, organizando em sua caderneta a rede de contato dos que defendiam a permanência da memória integralista, desde velhos a novíssimos militantes. Alguns grupos nacionalistas, mas não necessariamente seguidores diretos do integralismo também freqüentavam o Centro Cultural Plínio Salgado. Alguns deles pertencem ao movimento “Carecas do Rio”. Atualmente, este grupo mantém estreita ligação com o movimento considerando-se parte dele, mas com certa independência em relação aos três grupos mais expressivos, a Frente Integralista Brasileira (FIB), o Movimento Integralista Linearista do Brasil (MIL-B) e a Ação Integralista Revolucionária (AIR). […] O apadrinhamento da velha militância daria aos “novos” a necessária ligação física com o pensamento de Salgado. Os debates principais, juntamente se davam e ainda se dão sobre o modo de reorganização do movimento. Alguns apóiam a reorganização como Partido, outros defendem que a essência integralista é antipartidária, pois a existência de partido faz parte da essência da democracia liberal que abominam. Assim sendo, o novo integralismo, atualmente, é composto de diversas correntes multiplicadas de norte a sul do país, principalmente sudeste e sul, que buscam legitimar a auto-referência de verdadeiro herdeiro do integralismo.
A unidade ideológica dos militantes foi um pressuposto central durante o período legal de existência da AIB enquanto partido político e a organização partidária dos integralistas foi uma bandeira levantada pelos núcleos da AIB espalhados pelo Brasil na década de 1930. Mesmo depois de 1945, no PRP, os integralistas concorreram a eleições elegendo muitos candidatos, momento que Plínio Salgado foi candidato à presidência da República na década de 1950, obtendo o terceiro lugar. Com o golpe militar de 1964, Salgado foi também eleito deputado federal por três vezes na ARENA.
Os integralistas contemporâneos, entretanto, estão divididos atualmente em relação ao retorno de uma legenda partidária independente. Porém, as atividades dos integralistas a partir da década de 1980 se intensificaram gradualmente numa rede de solidariedade ideológica entre os Intelectuais do Sigma.
Em consonância com a conjuntura internacional de reestruturação de muitos movimentos e partidos políticos chauvinistas, no Brasil os integralistas e outros herdeiros do Eixo continuaram sua militância, que pode ser evidenciada na realização dos três Congressos Nacionais [2], que ocorreram no Estado de São Paulo em 2004 [3] e 2006 [4] e, o último, na cidade do Rio de Janeiro, em janeiro de 2009, onde foi lançado um novo documento de diretrizes integralistas, intitulado Manifesto da Guanabara [5].
A Frente Integralista Brasileira (FIB), entre os novos grupos de integralistas, defende a manutenção da ideologia do Sigma [símbolo do Integralismo], formulada originalmente na década de 1930. Porém, outras organizações de militantes enfatizam a necessidade de revisão das concepções integralistas diante das novas conjunturas contemporâneas, como o Movimento Integralista Linearista (MIL-B) e a Ação Integralista Revolucionária (AIR).
A FIB é hoje a organização mais representativa dos integralistas, e foi criada em 2004, resultante do “I Congresso de 2004”. Está organizada, segundo dados de seu site [6], em 19 núcleos espalhados em oito Estados, localizados principalmente na região sudeste, na cidade de São Paulo, através da Casa Plínio Salgado e do Núcleo Integralista de Guarulhos.
No Rio de Janeiro existem, segundo dados do site [7], nove núcleos integralistas que fazem parte da FIB; entre eles o Centro Cultural Plínio Salgado, em São Gonçalo, o Centro de Estudos e Debates Integralistas (CEDI), na capital, e o Núcleo Integralista, de Niterói.
A FIB aglutina também organizações em importantes cidades com núcleos no Rio Grande do Sul, Paraná [8], Pernambuco e Bahia. Somente as regiões centro-oeste e norte estão ausentes de representação em núcleos divulgados no site da FIB.
As Brigadas Integralistas são uma das mais recentes organizações do integralismo contemporâneo, segundo dados do seu site [9]. Elas se colocam como um segmento de mobilização e ação da FIB. O lançamento de suas atividades ocorreu a 25 de agosto de 2008 (dia do Soldado no Brasil) e surgiu do trabalho elaborado por ex-membros da diretoria da FIB, preocupados com a forma de ação da instituição, para que deixasse de ter apenas uma formação doutrinária. As Brigadas Integralistas atuam especialmente na cidade de São Paulo, mas já com ramificações, segundo dados da internet, sendo estabelecidos pontos de representação em Manaus, São Paulo e Rio de Janeiro. Dentre as atividades destacadas, manifestações públicas, divulgadas em vídeos [10] na rede YouTube e panfletagens semanais, organizadas por suas unidades autônomas, buscam colocar em evidência o grupo, que tem por objetivo primeiro a difusão da ideologia integralista, buscando cooptar novos militantes.
A FIB, que aglutina as Brigadas Integralistas, nos seus quadros de liderança possui entre seus membros antigos “Águias Brancas”, militantes da organização juvenil Centros Culturais da Juventude (CCP), criados como órgãos de mobilização e formação política de jovens do PRP por Plínio Salgado, aglutinados pelo discurso do catolicismo social do mestre que, após seu retorno do exílio em Portugal, reestruturou segmentos de novos militantes nacionalistas e da antiga militância integralista.
Porém os antigos “Águias Brancas”, que hoje formam a FIB, se posicionam contra o restabelecimento do integralismo como partido político.
Existem também núcleos independentes, como o Núcleo Integralista de São Luís, no Maranhão, e o núcleo localizado na cidade Campinas, em São Paulo, denominado de Movimento Integralista Linearista Brasileiro.
O MIL-B foi fundado em 2004, pelo policial federal Cássio Guilherme Reis Silveira, que antes participava de reuniões na Casa Plínio Salgado, em São Paulo. Porém, devido a sua defesa pela reinterpretação da ideologia integralista, denominada de Linearismo, ocorreram atritos, que levaram Cássio, em 2006, a tornar o núcleo de Campinas independente da FIB, privilegiando a reinterpretação das concepções ideológicas de Gustavo Barroso, Plínio Salgado e Miguel Reale, os principais intelectuais do Sigma.
Os integralistas linearistas destacam-se entre os novos grupos, assim como os militantes da AIR, pois têm como proposta a releitura e atualização da ideologia integralista oficial da década de 30, diante dos problemas da atualidade. Nesse sentido, estas duas organizações integralistas contemporâneas são renegadas pelos integralistas tradicionalistas que buscam preservar as formulações ideológicas impostas pela liderança da AIB no período de sua fundação, nas primeiras décadas do século XX.
A Ação integralista Revolucionária (AIR) é o terceiro grupo contemporâneo mais expressivo, sob a liderança de Jenyberto Pizzotti, com sede na cidade de Rio Claro, em SP, criada em 25 de dezembro de 2004. Seu diferencial entre os neo-integralistas insere-se na crítica à organização partidária. Para o grupo em questão, a organização deve estar centrada no integralismo enquanto movimento, construído a partir de células, utilizando-se em grande medida da comunicação virtual, sob a coordenação de uma presidência, atualmente exercida por Jenyberto. Como os militantes da AIR não possuem núcleos, a sua forma de organização está intrinsecamente relacionada às estratégias não presenciais como a internet, privilegiando o ciberespaço como forma de interação política, onde ferramentas como o site de relações Orkut e outras possibilidades da rede são utilizados de forma a diferenciar a AIR dos demais grupos.
Os fenômenos políticos das manifestações contemporâneas de extrema direita representam reconfigurações ideológicas que precisam ser analisadas através de fontes de pesquisa diversas para a análise dos elementos comuns e das diferenciações de seus pressupostos e modelos organizativos. Neste mosaico, entre os novos militantes herdeiros do integralismo, existem os skinheads integralistas, que também marcam caracteres atípicos em relação às formas de organização e valores ideológicos dos grupos chauvinistas tradicionais.
Os extremistas de direita na atualidade buscam, através de diferentes modelos de organização, reconstruir possibilidades de atuação na sociedade e buscam legitimar a irracionalidade de seus discursos marcados pelo nacionalismo, xenofobia e homofobia.
A relação de militância entre os herdeiros do Eixo no Brasil, como em muitos países, é potencializada pela utilização das novas tecnologias de comunicação. Nessa bricolagem chauvinista, esses grupos se estruturam atuando através dos novos meios de comunicação para a difusão de suas ideologias.
Imprensa, partido político e a internet
A análise dos sites e jornais dos grupos integralistas contemporâneos possibilita a análise das perspectivas ideológicas dos grupos em questão através da utilização de fontes oriundas do material de propaganda política e formação de militância disponíveis nas publicações impressas e eletrônicas dos três grupos integralistas de maior expressão.
As aproximações e divergências na interpretação dos novos integralistas em relação às concepções dos teóricos e líderes da AIB da década de 30, segundo interpretação das fontes selecionadas, comprometem as possibilidades de unificação partidária devido às concepções ideológicas dos três grupos integralistas. Estes se distanciam em pontos fundamentais para reestruturação centralizada da militância, como a reestruturação legal do partido e as adequações “doutrinárias” da nova “interpretação integralista” na conjuntura nacional e internacional do início do século XXI.
Os skinheads integralistas apresentam outra dimensão do fenômeno político em debate, pois em sua maioria estão organizados na facção “Carecas do ABC”, sob o mesmo lema integralista da década de 1930 – Deus, Pátria e Família -, mesmo participando de atividades e encontros patrocinados pelos núcleos, são autônomos em relação à velha guarda de camisas-verdes agremiados nas organizações integralistas (CARNEIRO, 2007).
Os grupos integralistas contemporâneos se dividem em relação às suas posições diante de temas como o projeto político de Estado e de questões como o anti-semitismo e a solidariedade com outras tendências como neonazistas e fascistas. As valorizações de elementos como o espiritualismo cristão da denominada “Revolução Interior” de Plínio Salgado, as concepções normativas ao ordenamento jurídico do Estado integral corporativista de Miguel Reale e o anti-semitismo de Gustavo Barroso, são interpretados de modos diferentes nas releituras da ideologia integralista dos três grupos integralistas contemporâneos em estudo.
As divergências entre os grupos neo-integralistas são fatores que influenciam as táticas de estratégias políticas e estimulam visões antagônicas em pontos centrais, como a reunificação do integralismo enquanto partido para a reestruturação centralizada dos militantes. Porém, as facções integralistas, mesmo não centralizadas, desenvolvem nos últimos anos estratégias de reorganização e projeção nos meios de comunicação, em consonância com as estratégias de propaganda e organização de outros segmentos como neonazistas e neofascistas, no sentido de apresentarem propostas e ideais de cunho nacionalista e as concepções de defesa das virtudes morais como fundamento de defesa de um Estado Forte.
A difusão e socialização ideológica do jornal político proporcionam um caráter diretivo e organizativo para movimentos políticos não organizados em partidos tradicionais, segundo o pensador italiano Antonio Gramsci.
Gramsci aponta que, no contexto de ausência de partidos organizados, os jornais são capazes de desempenhar as funções de informação e de direção política geral para intelectuais de tendências políticas diversas.
No estudo dos jornais como capazes de desempenhar a função de partido político, é preciso levar em conta os indivíduos singulares e sua atividade. […] Jornais italianos muito mais bem feitos que os dos franceses: eles cumprem duas funções – a de informação e de direção política geral, e a função de cultura política, literária, artística, científica, que não tem um órgão próprio difundido. […] Na Itália, pela falta de partidos organizados e centralizados, não se pode prescindir dos jornais: são os jornais agrupados em série, que constituem os verdadeiros partidos (GRAMSCI, 2000, vol. 2, p. 218-221).
Nas disputas políticas do século XXI, as potencialidades da tecnologia instrumentalizadas para a propaganda política, marcam as organizações e partidos extremistas (DIAS, 2007). Através da socialização ideológica no ciberespaço, variados segmentos da extrema direita encontram um novo território para organização, ação e propaganda. Nesse sentido é ilustrativo o número de sites de grupos da extrema direita estadunidense [11].
As primeiras experiências da propaganda política via internet no Brasil ocorreram na década de 1990, destacando-se a atuação da “Editora Revisão” no Rio Grande do Sul, famosa pelo comércio de livros e divulgação de textos anti-semitas e revisionistas. Sendo proibida pela justiça, atualmente está hospedada em provedor de país latino-americano vizinho (JESUS, 2006).
As utilizações de fóruns de discussão têm propiciado a articulação de simpatizantes e membros de grupos de tendências diversas de extremismo político de direita. Fazendo uso também de comunidades virtuais no orkut, criando blogs, e nas listas de discussão os integralistas acompanham a extrema direita internacional na questão da utilização das novas possibilidades de propaganda política.
A FIB destaca-se realizando de forma programada reuniões entre seus ativistas através de Chats exclusivos do site oficial, ou “sede virtual”, disponibilizando grande quantidade de artigos para a formação de seus militantes. O Núcleo Integralista do Rio de Janeiro, na questão da comunicação também inova ao utilizar serviços de mensagens para celulares através de “torpedos” para seus membros, também se destacando pelos inúmeros artigos discutindo a conjuntura brasileira e internacional sob a ótica de suas “perspectivas nacionalistas para o século XXI”.
O trabalho que vem sendo desenvolvido pelos Núcleos Integralistas do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, está cada vez mais articulado a utilização do ciberespaço.
Está em fase de finalização um museu virtual do integralismo [12], organizado por uma nova organização integralista, o Centro Cultural Arcy Lopes Estrella [13], que está digitalizando, em parceria com a FIB-RJ/NIERJ, uma grande quantidade de documentos.
O projeto teve início em 2007 e já digitalizou documentos de vários grupos integralistas que atuaram entre 1945 e 1985, como o Partido de Representação Popular e os Centros Culturais da Juventude. O material digitalizado está sendo doado pela Academia Brasileira de Letras aos Núcleos Integralistas do Estado do Rio de Janeiro. O Presidente da FIB-RJ|NIERJ, Robson Peixoto, segundo dados do site da organização [14], agradeceu a doação à Academia Brasileira de Letras e informou que o novo conteúdo do acervo estará à disposição de todos os pesquisadores interessados em estudar o Integralismo.
O Instituto Plínio Salgado é outra organização recentemente fundada pelos integralistas contemporâneos, fundado no dia 5 de junho de 2009, segundo informações do site do NIERJ [15], é parte de um programa da Secretaria de Expansão e Organização da Diretoria Administrativa da FIB, visando divulgar a história contemporânea do movimento.
O site do Instituto Plínio Salgado está oferecendo cursos de formação através do modelo EaD (Educação a Distância) [16]. Elemento interessante para a reflexão das inovações da militância dos grupos de extrema direita no Brasil.
O site afirma que os seus objetivos são “a qualificação e o aperfeiçoamento intelectual dos membros da Frente Integralista Brasileira, para que eles possam, fundamentadamente, conquistar a superioridade do conhecimento em seu meio, progressivamente, até a conquista efetiva dos corações do Brasil por meio de nossas idéias”. O curso de formação e capacitação dos militantes integralistas através do modelo EaD está sendo organizado pela denominada “Secretaria de Expansão e Organização” e pela “Secretaria Nacional de Doutrina”. Segundo dados do site: “Os primeiros cursos, Doutrina I e Liderança I, são voltados exclusivamente ao movimento e têm previsão de início na terceira semana de julho”.
O site MIL-B também utiliza em grande medida a internet para suas atividades e conta com um freqüentado Fórum de Discussão, além de muitos artigos discutindo a necessidade de revisão de elementos da ideologia integralista diante da interpretação “Linerista” [17].
A Ação Integralista Revolucionária (AIR) destaca-se entre os novos grupos pela utilização de comunidades virtuais através do Orkut, divulgando um modelo descentralizado para o integralismo entendido enquanto movimento político, onde seus adeptos organizam discussões e atividades [18].
Para Ianni (2000), no mundo contemporâneo o papel que cabia ao partido, de organizador da vontade coletiva, em parte se esgotou e se restringiu; como outra dimensão social, a mídia é potencializada como ferramenta de socialização ideológica, suplantando a esfera de ação dos tradicionais partidos políticos.
As novas potencialidades dos meios de comunicação proporcionam no território em rede novas possibilidades de estratégias de guerra de posição.
O ciberespaço é, basicamente, um meio que fornece a comunicação não-presencial. Ganhando espaço no “território em rede”, como vantagem diante das distâncias físicas, os membros de comunidades virtuais, associações, movimentos e partidos, ao redimensionar suas propagandas, levando em conta a grande potencialidade do mundo virtual, abrem margem à interação entre membros de movimentos e partidos políticos.
Os militantes dos movimentos e partidos de extrema direita são nesta investigação compreendidos como intelectuais organizadores da cultura política de extrema direita [19] e, mesmo não estando mais articulados em partido de massa, exercem novas possibilidades organizativas e diretivas através da propaganda política impressa, como jornais e informativos [20] e através da internet [21].
A questão da atuação de movimentos e partidos políticos denominados de organizações de extrema direita reacende em pesquisas e publicações contemporâneas das ciências sociais o debate sobre o conceito e extremismo político de direita como critério interpretativo.
O contexto do século XXI marca um novo cenário que está redimensionando a política, realizada agora também em redes eletrônicas digitais. E a internet como mais um meio de comunicação, para a troca de informação e de propaganda política, possibilita a interpretação da atuação de sites oficiais dos partidos como sedes virtuais.
Em contraposição as tradicionais definições das organizações de caráter fascista como fenômenos políticos restritos ao período entre-guerras, marcados pela centralização organizacional através do partido único de massa, com base social na pequena burguesia e de uma liderança central.
As novas manifestações de movimentos e partidos políticos de extrema direita rearticulam novas possibilidades para sua militância e propaganda ideológica, sendo um fenômeno político que precisa ser analisado e coibido, sobretudo, pelo caráter violento da ação destes grupos, articulados em redes de solidariedade de amplitude internacional (FLORENTIN, 1994; HOCKENOS, 1995; JIMENEZ, 1997).
Nessa nova dimensão da política propiciada por novas formas de propaganda política, os grupos latino-americanos de extrema direita, como as atuais facções integralistas no Brasil, utilizando como os congêneres europeus e estadunidenses aproximadas estratégias de formação de militância e de propaganda política, mesmo divididos, firmam presença.
Os herdeiros do Eixo suplantam as distâncias físicas e mobilizam grupos congêneres na reconstrução de possibilidades para sua militância.
Notas
[1] A Aliança Renovadora Nacional (ARENA) foi um partido político brasileiro fundado em 4 de abril de 1966 com a intenção de apoiar a Ditadura Militar instituída a partir do Ato Institucional I (AI-1), tendo uma orientação predominantemente conservadora. Sua criação foi a partir da instauração do bipartidarismo pelo AI-2 de outubro de 1965 que determinou a extinção do pluripartidarismo. Em 1980, o pluripartidarismo foi legalizado novamente, e a ARENA foi rebatizada de Partido Democrático Social (PDS). Mais tarde, o PDS se tornou o Partido Progressista Renovador (PPR), depois o Partido Progressista Brasileiro (PPB) e hoje se chama Partido Progressista (PP).
[2] Os encontros dos militantes integralistas proporcionaram também uma mobilização de grupos antifascistas como destacou o site Centro Mídia Independente (CMI). Disponível em: http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2004/12/296776.shtml. Data de acesso: 01 de julho de 2009.
[3] Segundo o relato de Carneiro, em sua observação participante enquanto pesquisadora no referido Congresso: […] em dezembro de 2004 reuniram-se os grupos dispersos que tentavam dar uma unidade ao integralismo. O 1º Congresso Integralista para o Século XXI reuniu-se na sede da UND (União Nacionalista Democrática) na capital paulista para nova tentativa de reorganizar a AIB. Esta pequena assembléia que reuniu representantes de Centros de Estudos e Debates Integralistas (CEDIs), núcleos diversos de simpatizantes que haviam se organizado em seus locais de origem com propostas debatidas internamente com o objetivo e expô-las e discuti-las no encontro, decidiu pela fundação do MIB (Movimento Integralista Brasileiro) e do Conselho Nacional Integralista formado por 40 membros que assumiram a missão de “resgatar o integralismo em todo o Brasil”. Deste encontro também participaram representantes do PRONA, da União Católica Democrática, do MV-Brasil (Movimento pela Valorização da Cultura, do Idioma, e das Riquezas do Brasil), alguns militares da ADESG (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) e UND. O que então pude constatar é que esta pequena parcela da direita brasileira, carregada de posições ultranacionalistas procura através da organização conjunta, consolidar um discurso que não pretende levar em conta o debate democrático, preferindo fazer valer seus pontos de vista a partir de posições intolerantes e violentas (CARNEIRO, 2007, p. 153-154).
[4] Veja as fotos dos dois últimos Congressos Integralistas: Disponível em: http://www.integralismonosul.net/multimidia/fotos/atuais/. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[5] Disponível em: http://www.integralismorio.org/offensiva/arquivos/2009/260109.htm. Data de Acesso: 1 de julho de 2009.
[6] Disponível em: http://www.integralismo.org.br/novo/. Data de Acesso: 1 de julho de 2009.
[7] Veja onde estão localizados os integralistas do Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.integralismorio.org/institucional/ondeestamos/index.html. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[8] Disponível em: http://www.integralismonosul.net/ e http://www.anauefoz.hpg.com.br/. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[9] Disponível em: http://www.integralismo.org/. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[10] Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=ZYVUW6KZKPk. Data de acesso: 3 de julho de 2009.
[11] No site da “National Alliance”, neo-nazistas podem acessar uma estação de rádio ao vivo através do programa de áudio Real Player para ouvir palestras, assim como, revistas on-line de temas nazistas. Programações musicais de gêneros populares entre Skinheads e White Powers como as bandas de Oi são utilizadas para agremiar simpatizantes ideológicos e atrair novos adeptos, através da programação musical. Este tipo de suporte informacional é destaque no site “Condemned 84”. A discussão entre historiadores e intelectuais revisionistas pode ser acessada no site “Fourteen Words Press”. Os E-books também são utilizados, principalmente pela “Word churchll of the Creator”, uma organização denominada “igreja” que prega o anti-semitismo e a supremacia branca, no site oficial estão disponíveis livros anti-semitas on-line. BARENBEIN, Daniel B. Varsóvia on-line. Do nacional socialismo de Goebbels ao neonazismo na internet. http://www.varsovia.jor.br/index.htm. Data de acesso: 4 de julho de 2007.
[12] Disponível em: http://www.integralismorio.org/offensiva/arquivos/2008/181108.htm. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[13] Disponível em: http://www.arcycultura.org.br/. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[14] Disponível em: http://www.integralismorio.org/offensiva/arquivos/2009/210209.html. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[15] Disponível em: http://www.integralismorio.org/offensiva/arquivos/2009/020709.html. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[16] Disponível em: http://integralismo.org.br/ead/. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[17] Disponível em: http://www.doutrina.linear.nom.br. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[18] Disponível em: http://www.integralismorio.org/ e http://br.geocities.com/airevolucionaria/. Data de acesso: 2 de julho de 2009.
[19] Intelectuais, organização e direção política aparecem em íntima relação no Caderno 12: “Que todos os membros de um partido político devam ser considerados como intelectuais é uma afirmação que pode se prestar à ironia e à caricatura; contudo, se refletirmos bem, nada é mais exato. Será preciso fazer uma distinção de graus: um partido poderá ter uma maior ou menor composição do grau mais alto ou mais baixo, mas não é isto que importa: importa a função, que é diretiva e organizativa, isto é, educativa, isto é, intelectual” (GRAMSCI, 2000, vol. 2, p. 25).
[20] Os principais informativos impressos mapeados e utilizados como fontes documentais são os jornais: Alerta (do Centro Cultural Plínio Salgado (RJ), publicado de 1995 até 2002), o Idade Nova (RJ) (que circulou no final da década de 1990), O Informativo CEDI (RJ) (que começou a circular em 1999). A partir do início do ano 2000, o jornal Avante de Niterói (RJ), Quarta Humanidade e o Ofensiva, ambos do Paraná, e o informativo distribuído pela Casa Plínio Salgado. Estas, aqui relacionadas são as publicações da associação de núcleos integralistas que formam a Frente Integralista Brasileira (FIB). O MIL-B, além do site e listas de discussão na rede, tem como veículo de propaganda impresso o jornal O Integralista Linear, que começou a circular em 2006. Este último agrupamento integralista, possuindo núcleo somente em Campinas, edita uma única publicação central.
[21] Os principais sites dos grupos integralistas em analise são: http://www.integralismo.org.br/novo/; http://www.integralismonosul.net/; http://www.anauefoz.hpg.ig.com.br/; http://www.integralismorio.org/; http://br.geocities.com/airevolucionaria/; http://www.doutrina.linear.nom.br/.
Referências
CALIL, Gilberto. O integralismo no processo político brasileiro – o PRP entre 1945 e 1965: Cães de Guarda da Ordem Burguesa, Niterói: Tese de Doutorado, 2005.
CARNEIRO, Marcia Regina. S.R. Do Sigma ao Sigma – entre a anta, a águia, o leão e o galo – a construção das memórias integralistas. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: UFF, 2007. 424 p.
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